domingo, 9 de marzo de 2008

LA ULTIMA ENTREVISTA DE UM GUERRILHEIRO!!!

A última entrevista do Comandante Raúl Reyes
por Aníbal Garzón & Ingrid Storgen [*]

O Comandante Raúl Reyes tombou no dia 1 de Março de 2008, juntamente com 17 guerrilheiros das FARC-EP. Caíram vítimas do bombardeamento da Força Aérea Colombiana que destruiu o seu acampamento, ao Sul do Rio Putumayo. Esta acção confirma a criminalidade do governo fascista de Uribe, que tudo faz para sabotar saídas pacíficas para a situação colombiana. Ao recusar todas as gestões para a troca de prisioneiros de guerra e apostar tudo na solução militar o governo uribista põe em risco a vida dos prisioneiros e agrava a situação. O humanismo das FARC demonstrou-se no facto de – para libertarem prisioneiros e cumprirem a promessa feita ao Presidente Chávez – se terem arriscado a que os seus acampamentos fossem localizados através da espionagem electrónica das suas comunicações e dos satélites-sensores do imperialismo. Este risco foi excessivo, como agora se viu.
A entrevista que se segue foi a última concedida pelo Cmte. Raúl Reyes, na ante-véspera da sua queda em combate. Resistir.info presta homenagem a esta grande figura histórica de dimensão internacional.
Aníbal Garzón e Ingrid Storgen: Quando se pôs em andamento a famosa "Operação Emmanuel" acabou por ser preciso atrasá-la devido a operações militares estatais realizada próximo do lugar onde iam ser feitas as libertações. Que objectivo acreditam as FARC que poderia existir por trás da táctica militarista de Uribe ao realizar tais actividades em pleno lugar da operação (no Departamento de Meta) ponde em perigo a vida dos reféns?

Raúl Reyes: Por trás da táctica militarista de Uribe de impedir a libertação destes prisioneiros, sãos e salvos, está a absoluta recusa deste governo à troca e às saídas concertadas. Em nada lhe importa por em grave risco a vida dos prisioneiros. Finalmente, são mais de cinco anos sem que este governo se tenha interessado em facilitar a libertação desta gente. A assinatura do acordo humanitário requer a evacuação (despeje) dos municípios de Pradera e Florida, garantia negada pelo presidente Uribe e sem a qual as FARC não aceitam entrevistas com funcionários do governo actual em nenhum lugar.

A.G e I.S: Que mudança produziria nas FARC, e no contexto colombiano em geral, se se cumprisse a proposta de Chávez de conceder o status de actor beligente num conflito armado nacional e de repercussão internacional.

R.R: O reconhecimento de beligerância proposto pelo Presidente Hugo Chávez exprime o conhecimento cabal do conflito interno colombiano. Cuja solução definitória requer saídas políticas e reconhecer a existência de dois exército enfrentados por interesses políticos, sociais e económicos muito diferentes. O exército oficial, apoiado no paramilitarismo de Estado, e do outro lado o exército formado pelas guerrilhas revolucionárias das FARC e do ELN. A troca, ou intercâmbio de prisioneiros, será feita entre o governo e as FARC. Um dos entraves interpostos pelo governo colombiano para firmar acordos com a insurgência revolucionária é negar a sua existência histórica na vida política da Colômbia. Obstina-se em fechar os olhos perante uma realidade que o presidente Chávez, sim, observa com critério bolivariano e com o seu empenho generoso de trazer a paz aos colombianos. Em lugar algum do mundo é possível conseguir a reconciliação e a paz entre os contendores sem reconhecer a existência do adversário político.

A.G e I.S: Que opinião tem quanto ao movimento havido, a nível nacional e com internacionais, no passado 4 de Fevereiro de recusa às FARC. Que comparação se pode fazer a resposta a esse movimento anunciada para 6 de Março (Movimento Vítimas de Crimes de Estado)?

R.R.: A marcha de 4 de Fevereiro último foi organizada, promovida e financiada pelo governo de Álvaro Uribe. Ela contou com a contribuição dos meios de comunicação, os paramilitares conclamaram a dela participar. Os funcionários e empregados oficiais estatais foram forçados a vincular-se à mesma. As embaixadas e os consulados receberam instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros para participar na marcha e solicitar aos seus amigos apoios em cada país. É a marcha do governo da para-política contra a troca ou intercâmbio de prisioneiros e contra a busca da paz. Com o propósito de gerar ambiente nacional e internacional para promover a segunda reeleição de Álvaro Uribe.

A.G e I.S.: Foi divulgado que as FARC vão elaborar uma nova libertação de três ou quatro presos políticos[1]. Que objectivo se procura com isso, tanto a nível nacional como internacional? Acredita-se que haverá alguma resposta de Uribe?

R.R.: A libertação dos ex-congressistas Luis Eladio Pérez, Gloria Polanco, Orlando Beltrán e Jorge Eduardo Gechen Turbay e anteriormente de Consuelo González e de Clara Rojas é o resultado da persistência humanitária e da sincera preocupação pela paz na Colômbia do Presidente Hugo Chávez e da Senadora Piedade Córdoba. Também é a mais contundente manifestação da vontade troca das FARC, a qual exige a evacuação militar de Pradera e Florida por 45 dias, com presença guerrilheira e comunidade internacional como garantes, para pactuar com o governo nesse espaço a libertação dos guerrilheiros e dos prisioneiros de guerra em poder das FARC.

Internacionalismo

A.G e I.S: Quanto a uma visão mais internacionalista, a queda da URSS afectou negativamente o comunismo internacional. Acreditam as FARC que a retirada de Fidel como presidente do governo cubano afectará o socialismo cubano e em consequência o auge dos movimentos sociais latino-americanos e os governos de esquerda?

R.R.: A inesperada queda da URSS afectou negativamente boa parte dos Partidos Comunistas e sobretudo a construção socialista nos países da Europa teve um sério e longo retrocesso. O derrube do socialismo russo mostrou, sem lugar a equívocos, grandes falências ideológicas, políticas e estruturais desse modelo. Ao mesmo tempo que debilitou os partidos, também produziu no seu interior a depuração dos elementos farsantes e traidores que regressaram ao sistema capitalista sem vergonha alguma. Os Partidos e os seus militares de convicções sólidas mantiveram-se fieis ao acervo dos clássicos do Marxismo-Leninismo. Sem se deixarem confundir pela tormenta do capitalismo, que proclamava o fim socialismo, manteve-se Cuba, conduzida pelo seu Partido e o Comandante em Chefe dessa revolução triunfante. As FARC, representadas pelo Comandante Jacobo Arenas (falecido em Outubro de 1990) exprimiram com contundência a traição cozinhada na Rússia por Gorbachov após a enteléquia da perestroika e da glasnot. Dissemos naquela época, com a queda do muro de Berlim e do Socialismo, nem a fome, nem a pobreza, nem a miséria desapareceram entre os pobres, por isso a luta pela libertação dos povos e a construção socialista conserva plena vigência...

Hoje, tal como nesses temos, confirmamos mais uma vez que a opção da humanidade é o socialismo.

O Comandante Fidel Castro continua a iluminar, com luz própria e experimentada, a edificação do socialismo. O partido, seu povo e o novo chefe de Estado e de Governo de Cuba, avançam sem cessar pelo caminho traçado por Fidel e seus heróicos camaradas de luta.

História e conflito com o ELN

A.G e I.S: Há vários anos iniciaram-se diversos enfrentamentos entre o ELN e as FARC, em departamentos como Arauca, Nariño, Valle del Cauca e Cauca. Como sucedeu isso? Que repercussão teve quanto ao conflito contra o Estado uribista? E que solução vê as FARC?

R.R.: Na realidade, nada justifica os enfrentamentos armados entre o ELN e as FARC, por se tratarem de duas organizações revolucionárias comprometidas com a criação das premissas da luta pela conquista do poder político a fim de dar início à construção da sociedade livre de exploradores e sem explorados. Explicar os factores históricos de confrontação entre as duas forças é sumamente complicado neste espaço e de modo algum considero prudente atribuir toda a responsabilidade a uma das partes. No meu entender existe alguma culpa de parte a parte. O mais importante por agora é parar a confrontação entre revolucionários, assumindo em ambos os lados o compromisso de localizar os elementos infiltrados que alimentam o cizânia, a desqualificação, a falta de respeito a combatentes e massas, além de propalar rumores para aumentar hostilidades ou criá-las onde não existem. Estamos em vias de efectuar uma entrevista entre as duas chefias, para por fim a esta situação e fortalecer a unidade de acção, tendo em vista consolidar a luta contra o imperialismo e a oligarquia, pela nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo.

A.G e I.S: Em Setembro de 1987 criou-se a Coordenadora Guerrilheira Simón Bolívar, uma coligação entre diferentes grupos insurgentes (ELN, FARC, M-19, EPL, Frente Quintín Lame, MIR, PRT). Na actualidade, as FARC acreditam que seria positivo e possível realizar a re-criação da Coordenadora para unir o projecto revolucionário contra o governo de Uribe?

R.R.: A unidade da esquerda revolucionária, onde estão as guerrihas do EPL, ELN e das FARC, é uma necessidade de ordem estratégica. O nome de Coodenadora Guerrilheira Simón Bolívar insere-se exactamente dentro da nossa covicção bolivariana. Entretanto, o mais importante é superar a forma fatal de solucionar as diferenças.

A.G e I.S: As FARC fundaram-se como auto-defesas camponesas, mais tarde o seu objectivo foi a conquista do poder estatal para fazer a revolução socialista. Actualmente a táctica-estratégia parlamentar foi a mais utilizada na esquerda latino-americana desde a vitória de Hugo Chávez em 1999. Diante disto, as FARC continuam a defender a possibilidade de chegar ao poder mediante a luta armada-ataque ou só utilizam esta táctica como defesa da repressão, com possibilidade de futuras reformas de esquerda com um governo mais social-democrata?

R.R.: As FARC são uma organização político-militar que aplica a combinação de todas as formas de luta revolucionária para a conquista do poder. Coerente com esta definição de princípio, não subestimam a via eleitoral mediante uma grande coligação de forças anti-imperialistas bolivarianas, progressistas, revolucionárias, que mediante um programa de governo garanta a superação da crise, comprometa-se com a troca de prisioneiros e as saídas políticas para o conflito interno dos colombianos. Esta ideia está explícita na nossa Plataforma Bolivariana e no Manifesto firmado pelo nosso Secretariado, para um novo governo que garanta a paz com democracia e justiça social.

A.G e I.S: Nos anos 80, após as negociações de paz com Belisario Betancourt, fundou-se a União Patriótica como referente político da esquerda e a possibilidade de uma futura negociação de paz. Com a alta repressão e os milhares de assassinatos sofridos nas fileiras da UP, será que as FARC repensam a possibilidade de voltar a realizar a mesma estratégia como processo de paz?

R.R.: O genocídio a cargo do terrorismo de Estado contra a União Patriótica e parte considerável do Partido Comunista Colombiano demonstrou perante o mundo a intolerância e a criminalidade da classe governante do meu país, que além disso empurra os revolucionários a engrossarem as fileiras guerrilheiras para salvarem as suas vidas e manterem a luta política com as armas na mão. A UP foi liquidada a tiros pelos inimigos das saídas políticas. Facto que obriga a privilegiar o trabalho clandestino, como o Partido Comunista Clandestino e o Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia, cuja militância para subsistir e crescer mantém-se na clandestinidade.

Regionalismo revolucionário latino-americano

A.G e I.S: Como vêm a situação da América Latina, a partir da onda de governos progressistas na região, juntamente com outros directamente revolucionários?

R.R.: Observa-se na América Latina uma viragem positivo para a esquerda revolucionária com a liderança de governos anti-imperialistas, progressistas, independentes, bolivarianos, a caminho do socialismo, com o compromisso de cumprir o mandato do Libertador de proporcionar a maior soma de felicidade possível aos seus povos. A Colômbia não será a excepção. Como bolivarianos, em meio à confrontação com governo da ultra-direita fascista e paramilitar, vamos pelo mesmo caminho sem que ninguém nem nada o impeça.

A.G e I.S: Qual é o papel que deve cumprir a solidariedade internacionalista como muro de contenção frente à terrível problemática que vivem os povos da América Latina, os colapsos financeiros e as guerras, em momentos nos quais o império agrava os planos de desestabilização e a conhecida estratégia da CIDA e do Estado de Israel como factores de extrema periculosidade?

R.R.: O caminho está no fortalecimento da unidade anti-imperialista, progressista e da esquerda revolucionária com a finalidade de unir esforços, aprender com as experiências de cada lugar, para cerrar fileiras contra os sinistros planos dos impérios e das oligarquias crioulas, empenhadas em perpetuar-se no poder à custa da destruição das organizações e projectos políticos contrários às suas políticas de exploração, espoliação, enriquecimento ilícito, narcotráfico, corrupção, opressão, pobreza e miséria, vertidas sobre os povos do continente. Impõe-se incrementar o internacionalismo, como expressão de solidariedade de classe.

Muito obrigado,
Raúl Reyes

Montanhas da Col